Realizado em janeiro de 2012 durante o período de 5 dias, nos arredores da Vale do Anhangabaú, em São Paulo, região conhecida por pontos históricos e arquitetura privilegiada, a primeira edição da URBE – Mostra de Arte Pública foi composta por uma série de intervenções site specific temporárias, desenvolvidas por cinco jovens coletivos/artistas e por uma programação paralela de debates e workshops. Os artistas Goma (Brasil), Doma (Argentina), Felipe Sztutman (Brasil), ZoomB (Brasil) e UrbanScreen (Alemanha) foram selecionados por três jovens curadores com diferentes visões e experiências no campo das artes visuais: Alessandra Mader, Felipe Brait e Julia Clemente. As obras (três instalações e dois trabalhos de projeção, em larga escala) foram aplicadas na fachada do Centro Cultural Banco do Brasil, na rua da Quitanda, no vale do Anhangabaú, no viaduto do Chá e na fachada da Prefeitura, dialogando diretamente com a cidade e os seus valores estéticos, históricos e sociais.
A obra Cachoeira, que se estendeu do viaduto do Chá até o vale do Anhangabaú, teve a intenção de repensar o espaço e sua história, recriando, simbolicamente, a memória do córrego das Almas, que passava pela região. Uma analogia ao fluxo rápido e impactante, que nunca para, como o volume de informações e pessoas que circula pela cidade e muitas vezes transcende o ambiente físico, tornando-se metafórico. A obra podia ser percebida durante o dia, mas atingia seu impacto máximo durante a noite, criando uma narrativa espacial e virtual.
Graduado em design pela FAU USP, em 2007 executa seus primeiros trabalhos em vídeo. Ingressa no estúdio BijaRi e passa a desenvolver trabalhos como VJ. Essa experiência lhe permite somar os conhecimentos de programação visual com a manipulação de vídeos em tempo real e abre caminho para o live cinema. Em 2009, abre o Lab-Office New York Visualista, onde desenvolve trabalhos comerciais e pesquisas junto a Rodrigo Bellotto e Gian Spina.
A pichação de São Paulo é singular tanto por sua complexidade de organização quanto por sua execução estética. O objetivo da obra foi destacar a evolução dessa estética e sua consequente adaptação contextual, por meio da criação de novas “marcas” e “grifes”, de diferentes estilos e épocas. A questão não foi criar juízos de valor, mas aproximar e dar densidade ao estudo de algo tão paulistano, aproximando o cidadão comum dessa manifestação urbana. O suporte escolhido para a criação foi o neon vermelho, que iluminou a fachada do CCBB e convidou o público a ocupar as ruas do centro, inclusive no período noturno.
A Goma Oficina Plataforma Colaborativa foi um coletivo de arquitetos e artistas associados que, desde 2010, trabalhou com frentes interdisciplinares e foi reconhecido pela gama de atuação diversa, principalmente pelo viés de um olhar crítico e artístico. Desde sua origem, foram a prática e a experimentação, inclusive na construção do próprio espaço de trabalho, que ajudaram a nortear o processo projetual: idealização de cenografias, objetos, intervenções artísticas e arquitetura. Além de arquitetos, fizeram parte da rede de colaboradores e parceiros, fotógrafos, músicos, designers, educadores, entre outros
Uma instalação que evoca o absurdo e o simbólico como entidade geométrica. Propôs um olhar irônico e pensativo sobre a religião e o momento histórico atual, utilizando os princípios de tecnologia analógica e visual para construir uma grande estrutura de formato geométrico. A estrutura foi construída de forma que, durante o dia, refletisse ou provocasse uma refração da iluminação natural e, durante a noite, iluminada, permitisse a interação com o público, transformando-a num observatório da região do vale do Anhangabaú. Bonecos de resina ou manequins foram fixados na escada que dava acesso à obra, incentivando o fluxo de pessoas.
Doma é um coletivo de artistas de Buenos Aires, Argentina, que surgiu na cena da arte urbana em 1998. Estudaram imagem, som, ilustração e desenho gráfico na Universidade de Buenos Aires e hoje dividem suas atividades entre diversos projetos artísticos, trabalhando com diferentes formatos e meios. Doma desenvolveu muitos projetos no âmbito do universo audiovisual; em mais de uma década, criaram um estilo reconhecido por sua visão crítica e, ao mesmo tempo, irônica da realidade
A obra que o Urbanscreen produziu para a fachada da Prefeitura de São Paulo considerou o edifício como objeto ativo. A ideia foi mostrar como o prédio se inseria no contexto de uma cidade tão poderosa e avassaladora como São Paulo, refletindo a mutação de sua população através de imagens produzidas, representando os vários rostos das pessoas que circulam pelo centro da cidade. Toda a energia positiva e a beleza vivida e expressada diariamente por milhões de pessoas foi ilustrada através dessa projeção na fachada do icônico edifício projetado pelo arquiteto Marcello Piacentini. O prédio como objeto estático, fixo, como uma rocha no mar, ergue-se enquanto a vida diária flutua em torno dele, como ondas. O objetivo da obra, por fim, foi desvendar e mostrar a energia, normalmente invisível, relacionando a arquitetura ao fluxo demográfico da multidão que, ao se mover lentamente, reorganizou a fachada, fazendo emergir uma vibração intensa sobre a diversidade identitária de uma metrópole megalomaníaca.
Urbanscreen é um coletivo artístico e criativo de Bremen, Alemanha. Formado por profissionais de diferentes backgrounds, entre arquitetos, músicos, videoartistas e especialistas técnicos, o grupo destaca-se por investigar como o digital sobrepõe-se ao mundo material, e vice-versa. As possibilidades de integração são a motivação do trabalho do coletivo, que se diz fascinado pelo tremendo potencial tecnológico e seu impacto nas expressões artísticas transmídia
Para a matemática, todos os conjuntos vazios são iguais e, por isso, é possível falar de um único conjunto sem elementos. O zero representa o vazio, que é o constituidor do infinito. O vazio do micro e do macro são o mesmo. O centro da cidade de São Paulo, em específico, é repleto desses contrastes. A obra Conexões gerou um ambiente propício a essa observação. Sons dos extremos dos espectros foram relacionados com elementos geométricos simples, na criação de um espaço cheio e vazio ao mesmo tempo. O simples fato de as pessoas caminharem pela rua da Quitanda já forneceu o subsídio necessário à existência da instalação. Sem o fluxo de pessoas, o trabalho seria um amontoado de tecnologia vazia. Trabalho e público fundiram-se nessa arquitetura efêmera e, ao mesmo tempo, perceptível.
Com uma equipe multidisciplinar de VJs, arquitetos, programadores, engenheiros, artistas visuais e músicos, o ZoomB propõe soluções audiovisuais para um mundo em revolução permanente. Desenvolve projetos nos quais a fusão de tecnologias desenha novas experiências e rompe barreiras entre arte e técnica, expressão e informação, produto e processo, jogo e construção.